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Técnica de enfermagem do HUOC/UPE que recebeu a primeira vacina contra Covid-19 em Pernambuco tem história contada no Diário Oficial - Universidade de Pernambuco

Técnica de enfermagem do HUOC/UPE que recebeu a primeira vacina contra Covid-19 em Pernambuco tem história contada no Diário Oficial

A técnica de enfermagem Perpétua do Socorro Barbosa dos Santos, a primeira pessoa a receber a vacina contra a Covid-19 em Pernambuco, foi tema da série “Servidores que Inspiram”, com perfil publicado na edição do Diário Oficial do Estado de Pernambuco deste sábado (23). Com 30 anos de trabalho no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), sendo 25 deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ela representa todos os profissionais de saúde que estão na linha de frente no combate ao novo coronavírus. O HUOC integra o complexo hospitalar da Universidade de Pernambuco (UPE) e é uma referência no tratamento à doença.

 

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Perpétua, aquela que ajuda a salvar vidas

Celebrizada por ter sido a primeira pernambucana a receber a vacina contra a Covid-19, técnica de enfermagem do Huoc diz que procura fazer do trabalho na saúde uma missão de vida

Por Paulo Goethe

No armário de metal para os profissionais de saúde que trabalham na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Departamento de Doenças Infecto Parasitárias (DIP), uma portinhola é sinalizada por um nome em cor de rosa e uma imagem emoldurada por várias cores em lápis de cera de um Cristo jovem com um cálice. O nome é “Perpétua” e o Cristo foi um presente de um paciente de 20 anos de idade que faleceu duas semanas depois de preparar a obra de arte no leito do hospital. O hospital é o Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) e Perpétua é a técnica de enfermagem que se tornou, na segunda-feira (18), a primeira pessoa em Pernambuco a ser vacinada contra a Covid-19. 

Otimismo e reconhecimento marcam a vida desta recifense de 52 anos de idade que tornou-se uma celebridade depois de receber a agulhada que transmitiu a dose de CoronaVac para seu braço direito. Em dez segundos, a vida da técnica de enfermagem que há 25 anos trabalha na UTI do HUOC - que integra o complexo hospitalar da Universidade de Pernambuco (UPE) - mudou. 

Perpétua do Socorro Barbosa dos Santos tornou-se símbolo da esperança de derrota do coronavírus, ganhou mais seguidores no Facebook e Instagram e teve que administrar os muitos elogios e as críticas (poucas, mas dolorosas) que recebeu por ter sido escolhida para representar quem está na linha de frente do combate à doença que já tirou a vida de mais de dez mil pernambucanos. No Brasil, o número de óbitos ultrapassou a marca de 210 mil.

Perpétua estava em casa quando foi comunicada que iria receber a vacina contra Covid-19 antes de todos. Mal deu tempo de arrumar os cabelos - que precisavam de uma pintura - e enfrentou 40 minutos de ônibus de Camaragibe para o bairro de Santo Amaro, no Recife, onde aconteceria a cerimônia com a presença de autoridades como o governador Paulo Câmara. Além do medo de agulha, apesar de conviver num ambiente em que o manuseio delas é constante, o fato de estar sob os holofotes lhe causou estranheza, mas os desafios são para serem enfrentados.

Formada no curso de auxiliar de enfermagem (concluído em dezembro de 1988) na Faculdade Nossa Senhora das Graças, vinculada à UPE, Perpétua fez especialização para se tornar técnica e ascender nos quadros do HUOC, onde havia ingressado em 1985, ainda como voluntária. O gosto de trabalhar na saúde herdou da mãe, uma funcionária do INAMPS que se aposentou trabalhando no Hospital Barão de Lucena. Das duas filhas, a mais nova, de 28 anos, trabalha como biomédica. A mais velha, de 30 anos, não quis batas brancas e medicamentos. Seguiu a carreira administrativa. 

Nesses anos todos de trabalho cuidando dos ocupantes de dez leitos da UTI, Perpétua presenciou muitos dramas familiares, mas os óbitos resultantes das complicações de saúde por causa da Covid-19 representaram um novo patamar da dor da perda. Para ela e os outros sete integrantes de sua equipe de plantão, a morte que causou mais impacto nos últimos meses foi a de um colega de trabalho, um enfermeiro que sofreu um infarto. Ele vivia estressado com o risco de ser contaminado. Não conseguiu sobreviver para comemorar a possibilidade de uma vacina.

Quando não está cumprindo o seu plantão de 12 horas, Perpétua divide as 60 horas de folga entre a sua casa do Ibura, no Recife, e a de Camaragibe, que era da mãe que faleceu em 2018, aos 78 anos de idade. Nos dois lugares, no pico da pandemia, colocou um cartaz alertando que não receberia visitas por causa do risco de contaminação. Ela é uma defensora do uso de máscaras e do distanciamento social e lamenta que muitas pessoas descumprem estes procedimentos. Mas sabe que deve ser exemplo, inclusive para as duas netas pequenas. Foi assim desde o início.

Recebeu o nome de Perpétua, o mesmo da mãe, por causa de uma promessa. Na gestação, o bebê foi “ocultado” no ultrassom por um mioma. Sobreviveu ao parto, mas ficou sem pai aos 16 dias de nascida. O homem abandonou a família. A Perpétua original, a mãe, segurou as pontas. A filha sempre esteve ciente que a vida não era cor de rosa, como o nome que hoje está no seu armário de trabalho. 

Estudou no Colégio Americano Batista e mesmo depois da sua formação em Enfermagem não quer parar. Voltou a estudar para retomar o curso de Direito que interrompeu quando a mãe faleceu. Ler é a forma que encontra para relaxar, mas o que mais gosta é de ficar na piscina de plástico que comprou e colocou no quintal.

No seu terceiro casamento (este último já dura oito anos), Perpétua é uma mulher de fé. O Cristo que enfeita o seu armário lhe lembra sempre da sua missão de salvar vidas, mas ela leva sua crença mais adiante. É católica e umbandista. Acredita que Deus é um só e o propósito destas duas religiões é o mesmo. Sabe que o fato de ter sido escolhida para ser o símbolo da vacinação contra a Covid-19 em Pernambuco faz parte da sua missão. Trabalhando em um ambiente onde a impermanência é constante, comemora cada vida que consegue ser salva.

Mesmo após receber a segunda dose da CoronaVac prevista para duas semanas, Perpétua continuará defendendo a necessidade de não se baixar a guarda diante da doença. Mas desta vez estará de cabelos “arrumados” e não terá mais medo dos flashes e dos holofotes da imprensa. Sabe que sua fama de “Perpétua da Vacina”, como vem sendo chamada ultimamente, vai passar logo. Voltará a ser simplesmente Perpétua. A da UTI do HUOC. Aquela que ajuda a salvar vidas. Sempre.