Professor do curso de Medicina da UPE Campus Serra Talhada e Biomédico do LACEN PE, Jurandy Magalhães, é primeiro autor de estudo inédito sobre a COVID-19 em Pernambuco publicado na revista científica internacional Travel Medicine and Infectious Disease

O estudo publicado no periódico científico Travel Medicine and Infectious Disease é revisado por pares, isso quer dizer que os resultados foram analisados por outros cientistas do mundo que avaliaram o artigo antes do mesmo ser publicado. A publicação é fruto de uma parceria já firmada em 2019 com o pesquisador Lindomar José pena do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco) que visa a caracterização dos vírus respiratórios circulantes em Pernambuco e que acabou contemplando o SARS-CoV-2 com a detecção do vírus no Estado.

A análise dos dados também contou com a participação de alunos de mestrado e doutorado da Fiocruz e Analistas do Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (LACEN PE) que executaram os testes diagnósticos para COVID-19, além do apoio da Secretaria Estadual de Saúde e Secretaria Executiva de Vigilância em Saúde de Pernambuco. O professor Jurandy divide a primeira autoria do artigo com a mestranda Renata Mendes, ambos vinculados ao Programa de Pós-graduação em Biociências e Biotecnologia em Saúde (BBS) da Fiocruz PE.
 
O estudo foi o primeiro a descrever as características epidemiológicas, clínicas, demográficas e de diagnóstico molecular dos primeiros 557 casos do novo Coronavírus em Pernambuco, constituindo um aporte valioso e inédito de conhecimento para a literatura científica mundial.
Dentre os achados mais importantes do estudo estão:
1- Pacientes com quadros graves de COVID-19 e que permaneciam positivos para o vírus mesmo após 14 dias do início dos sintomas, apresentaram carga viral mais alta do que pacientes com quadro leve. Esse dado pode significar que esses indivíduos têm maior dificuldade de eliminar o vírus de seus organismos;
2- Do total de óbitos ocorridos até o momento da análise dos dados, 86,44% ocorreram em pacientes com mais de 51 anos, evidenciando a faixa etária com os maiores índices de morte por COVID-19, que podem ter ocorrido pela maior prevalência de comorbidades nestes indivíduos;
3- Os sintomas iniciais mais comuns entre os pacientes estudados foram a tosse (74,51%), seguido de febre (66,79%), dispneia (56,01%), dor de garganta (28,19%) e saturação de O2 <95% (24,42%). Esses sintomas podem confundir o diagnóstico clínico, pois podem estar presentes em diversas doenças. Isso nos mostra a importância de associar dados clínicos ao do diagnóstico laboratorial da COVID-19 para que haja a confirmação da infecção , bem como a realização do tratamento adequado;
4- O tempo médio entre o início dos sintomas e a detecção do vírus foi de 4,0 dias, mostrando que os indivíduos infectados procuravam atendimento médico logo nos primeiros dias da doença.
5- Detecção do maior tempo de excreção viral já publicado em Pernambuco até o momento: Um indivíduo que continuava positivo no teste de RT-PCR mesmo após 39 dias do início da doença.
6- Através de uma análise geoespacial, os pesquisadores verificaram que os primeiros casos de COVID-19 em Pernambuco, bem como a sua disseminação, ocorreram inicialmente na população de alta renda, sugerindo que a entrada do vírus no Estado tenha ocorrido principalmente através desses indivíduos. De fato, assim como em São Paulo, que detectou o primeiro caso da infecção pelo SARS-CoV-2 no Brasil em um indivíduo que tinha retornado recentemente da Itália, em Pernambuco, os dois primeiros casos da doença também foram diagnosticados em pessoas que tinha retornado da Itália e que residiam em um bairro de classe média-alta do Recife.
Além de ajudar médicos e profissionais de saúde e a estarem mais bem preparados para combater futuras incursões de patógenos respiratórios altamente transmissíveis na população humana, nossos resultados destacam a importância do fortalecimento de programas que visem a prevenção de doenças emergentes, mostrando a importância da vigilância de pessoas que viajaram para diferentes locais do mundo e retornaram para o Brasil sem passar por quarentena e testes de triagem”, explica o professor biomédico Jurandy Magalhães, primeiro autor do estudo.
O artigo publicado pode ser acessado gratuitamente pelos próximos 50 dias por este link: